segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Meu texto no Silva #2

Caríssimos: como são poucos os que têm o prazer de receber o jornal experimental editado por Ricardo Lísias, republico abaixo o artigo que escrevi (no calor dos fatos em setembro de 2011) para o Silva #2, saído no final de 2011, dobrado e embalado num saco de pastel. Lá vai, para quebrar um pouco o silêncio deste Caderno tão esquecido pelo seu dono...



Lutas - de classes?

Todos agora se acostumaram a encontrar nos jornais, nas revistas, nos telejornais e nos portais da internet imagens um tanto quanto inusitadas. Grupos de jovens, velhos, mulheres, crianças, todo tipo de gente empunhando bandeiras, gritando, sangrando, ocupando praças, derrubando monumentos, ostentando as causas e as armas mais variadas – da Grécia a Síria, de Portugal e Espanha ao Egito, da Inglaterra ao Canadá e ao Chile, é cada vez mais comum ver gente protestando.
Ora mais organizado, ora com todos os problemas da espontaneidade e da revolta, cada protesto desses tem sido convenientemente considerado como algo isolado, como algo cuja razão é pontual e, portanto, deve receber uma solução pontual, antes policial do que política. Especialmente quando tais protestos ocorrem em países ricos, os manifestantes são apresentados como baderneiros, que desafiam a ordem em nome de interesses que não ultrapassam os de um “caso de polícia”.
É exemplar, neste ponto, a postura do primeiro-ministro britânico, que inicialmente não queria interromper suas férias (as mesmas que já haviam sido adiadas em razão do escândalo do tabloide News of the World...) e, depois, defendeu que a solução passaria pelo bloqueio das redes sociais: “Estamos trabalhando com a polícia, os serviços de inteligência e a indústria para ver se seria correto interromper a comunicação das pessoas via websites e serviços quando soubermos que eles estão conspirando para a violência, desordem e criminalidade”. (A propósito, vale remeter ao artigo “Ativismo versão 3.0”, de Alan Waldron – publicado em www.redpepper.org.uk e traduzido por aqui no número zero da revista Samuel.)
            No entanto, um observador um pouco mais atento já consegue perceber, pela forma insistente como tais conflitos têm brotado aqui e ali, que não se trata de algo a ser enquadrado na categoria da simples e passageira “perturbação social”. O nível de tensão que tais protestos atingiram em alguns países – ou até em vários países ao mesmo tempo – faz lembrar uma afirmação de István Mészáros no preci(o)so ensaio “A necessidade do controle social”: “A frequência sempre crescente com que os ‘distúrbios e disfunções temporárias’ aparecem em todas as esferas de nossa existência social e o completo fracasso das medidas e instrumentos manipuladores concebidos para enfrentá-los são uma clara evidência que a crise estrutural do modo capitalista de controle social assumiu proporções generalizadas”[1]. É disso que se trata?
Tudo indica que sim – cada vez é maior a dificuldade para amarrar as pontas desses “desarranjos sociais” e fazer as pessoas “voltarem para casa”, pelo fato de se tratar em grande parte de pessoas que não têm para onde voltar, não têm nada a perder, como restou brilhantemente sintetizado na charge de El Roto sobre um provável diálogo entre autoridades políticas: “– Los excluídos se están rebelando. – Despidalos! – No hay manera, no tienen trabajo. – Córtenles las ayudas! – No podemos, no reciben ninguna. – Derriben sus casas! – Imposible, no tienen. – Entonces, estamos perdidos!”.
É difícil afirmar se – e em quanto tempo – a persistência desses conflitos terá força para evidenciar que, de comum, todos eles têm, lá no fundo, “defuntos” como o conflito capital-trabalho, a luta de classes, a exploração estrutural própria da sociedade capitalista. Mas já é seguro apostar que, em meio a tais protestos, deve-se disseminar mais rapidamente a convicção de que a universalização do capitalismo não significa a universalização de seus aspectos positivos. Pelo contrário. Em outras palavras, ficará mais evidente que, sob a lógica do capital, não é possível separar os dois lados da moeda: riqueza (concentrada) e miséria (crescente). Ou mesmo as duas faces do iPad: na loja, a tecnologia mais admirável; na fábrica, as condições mais desumanas.
Para o Brasil, como não são poucas as ironias do capital, o momento em que talvez estejam mais evidentes os nervos do sistema em crise – estrutural, profunda, generalizada – encontra o país surfando uma densa onda (e é inevitável ecoar a famigerada metáfora da “marola”) de otimismo, que arrasta os problemas com saúde, educação, violência, miséria, desemprego etc. – que estão muito longe de desaparecer – para debaixo do tapete, de modo que os enfrentamentos que deles resultam têm mínimas chances de ganhar corpo, conjunto. Agora, pelo contrário, é muito mais relevante que estejamos até mesmo exportando turistas-consumidores para os países ricos do que o fato de a morte de militantes dos direitos humanos pelo Brasil ter-se convertido numa forma barata de apagar focos de incêndio social contra as condições historicamente injustas de produção e distribuição da riqueza social.
            Não é por acaso que, neste mesmo momento de empolgação quase unânime com os índices sócio-econômicos do Brasil, capas de revista e editoriais dos jornalões já estampem – melhor: comemorem – que o MST “não é mais aquele”, afirmando-o (na verdade, não apenas o próprio MST, mas todos os movimentos de luta por reforma agrária) soterrado pelos programas sociais dos governos Lula e Dilma e com suas principais lideranças tendo sido cooptadas por tais governos.
            É muito significativo que os ataques ao MST tenham voltado, porque o MST é o temível irmão mais velho dos movimentos sociais que poderiam surgir pelo país e tem profundo parentesco com as lutas dos excluídos – sejam quais forem – pelo mundo. O tipo de motivação que incendiou o MST nos anos 1980 é da mesma natureza daquela que tem feito tantas pessoas, nos mais variados contextos atuais, buscarem alternativas coletivas de solução dos problemas que escapam das soluções individuais.
Para identificar tais semelhanças na história do MST, basta reparar o discurso idêntico da imprensa e das autoridades para tratar do movimento social dos trabalhadores rurais brasileiros – negando-lhe, de pronto, o status de movimento social – e o que se diz dos jovens que protestam pelo mundo, um discurso recheado de qualificativos que vinculam a reivindicação social à esfera policial: “baderneiros”, “desordeiros”, “bandidos”, “vagabundos”, “arruaceiros” etc.
Não é demais lembrar a advertência feita por Marx, diante da Comuna de Paris, em 1870: “A civilização e a justiça da ordem burguesa aparecem em todo o seu pálido esplendor sempre que os escravos e os párias dessa ordem se rebelam contra seus senhores. Então essa civilização e essa justiça mostram-se como uma indisfarçada selvageria e vingança sem lei. Cada nova crise na luta de classes entre o apropriador e o produtor faz ressaltar esse fato com mais clareza”[2].
Pois é. No momento em que escrevo este texto, bancários fazem greve em todo o Brasil, professores fazem greve – e apanham da polícia – em São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza. Há greve também nos Correios. Há pouco, greves chegaram a mobilizar 160 mil trabalhadores nas obras da usina de Jirau (Rondônia). Contra os trabalhadores, um Judiciário cada vez mais dedicado a inutilizar o direito de greve, fazendo-o sucumbir sob exigências e punições tão despropositadas quanto severas.
A importância que tais fatos têm separadamente não rivaliza com os traços que sobressaem quando nos dedicamos a perceber as conexões entre tais movimentos, dentro e fora do Brasil, o que nos permite imaginar a face política da Terra com cores muito mais fortes do que o atual otimismo brasileiro faz crer. Certamente, sob os discursos e as intenções tão díspares dos grupos que têm animado esses protestos, há de comum, ao menos, certa “intuição anticapitalista” (Ricardo Antunes).
Quem assiste hoje ao presidente norte-americano tendo que convencer os credores e investidores de que seu país não representa um risco para a economia mundial e vê um “movimento social” formar-se em Wall Street; quem lê sobre os suicídios de trabalhadores nas empresas privatizadas da França e nas fábricas de alta tecnologia da China; quem se espanta diante das catástrofes ambientais e da perspectiva de que outras venham a acontecer em breve; quem atenta minimamente para os fatos de ontem e de hoje começa a entender, de modo radical, o que pode significar a frase “tudo que é sólido desmancha no ar”, de 1847. E não será, por exemplo, o grito “sou agro” que impedirá que tal dinâmica atinja nossa concentradíssima (e hoje tão blindada) estrutura agrária. Faça a mídia quantos funerais fizer para as lutas sociais.



[1] O texto original é de 1971. Sua edição mais recente em português está em István Mészáros, A crise estrutural do capital. SP: Boitempo, 2009, pp. 47-74.
[2] Karl Marx, A guerra civil na França. Trad. Rubens Enderle. SP: Boitempo, 2011, p. 72.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Tantas Letras! 2011_1

Ler, conhecer, pensar, escrever

O projeto Tantas Letras! teve sua primeira edição em 2007, outras três edições (duas em 2009 e uma em 2010), contando com a participação de grandes escritores contemporâneos, que ministraram oficinas de criação e crítica literárias, estimulando a produção dos cerca de 100 alunos que passaram pelas oficinas, alguns dos quais têm hoje trabalhos publicados na revista também chamada Tantas Letras!



O projeto apresenta um novo formato de cursos de criação e crítica literárias, que compreende aulas específicas com escritores experientes, palestras sobre temas contemporâneos das ciências humanas, reuniões de monitoria para que os próprios alunos passem da formação para a difusão cultural (saiam da plateia e subam ao palco, digamos) e a edição da revista Tantas Letras!, apresentando a produção dos alunos e professores, além da colaboração de palestrantes e convidados.


Os alunos do Tantas Letras!, em qualquer das oficinas específicas (poesia, prosa e crítica), terão diversos encontros dedicados à reflexão sobre literatura, bem como à produção e discussão de seus próprios trabalhos, sendo que em parte desses encontros o coordenador da oficina trará convidados igualmente experientes para refletir sobre outros aspectos da linguagem da oficina e também propor diferentes atividades de criação aos alunos. Fará parte do curso também uma espécie de “café filosófico”, aberto ao público externo, constituído por palestras com grandes especialistas sobre temas que, inevitavelmente, atravessam o caminho de quem lê, escreve, reflete sobre literatura no nosso tempo.


Outra inovação trazida pelo Tantas Letras! é o encontro de monitoria: uma atividade facultativa que será conduzida por alunos que participaram ativamente das edições anteriores. A ideia é manter um ciclo de convívio, diálogo e troca de experiências entre as turmas, pois acreditamos que a formação do escritor é um processo permanente. Durante as monitorias, além da discussão sobre os exercícios de oficina, os alunos serão responsáveis por preparar as atividades de difusão dos seus próprios trabalhos.


A Secretaria de Cultura de São Bernardo do Campo promove o Tantas Letras! como um grande e inovador ciclo de difusão e produção de conhecimento, em que o público (e há muitos interessados em literatura nesta cidade!) terá acesso gratuito ao que de melhor tem sido feito na cultura brasileira e, claro, às condições de mergulhar no mundo das letras e afiar as ferramentas de leitor-escritor.


Em 2011, o Tantas Letras! terá duas edições (maio a julho, agosto a novembro).


Coordenação geral

Tarso de Melo


Coordenadores das oficinas
Reynaldo Damazio – crítica
Tarso de Melo – poesia
Tiago Novaes – prosa


Gratuito – vagas limitadas/haverá seleção


Inscrições: de 25 de abril a 6 de maio – das 9h às 18h (segunda à sexta) e 9h às 13h (sábado)
ou em ficha disponível no site www.saobernardo.sp.gov.br , que, após ser preenchida, deverá ser
enviada para o e-mail tantasletras.sbc@gmail.com  


Informações: (11) 4336.8211


Local: Biblioteca Monteiro Lobato
Rua Jurubatuba, 1415, Centro – SBC


PROGRAMAÇÃO - 2011_1
 
7 de maio, 16h
Palestra: As mil e uma noites da tradução literária
com Mamede Mustafá Jarouche
 
21 de maio, 13h30
Oficina com os coordenadores
 
4 de junho, 13h30
Oficina com convidados
Donizete Galvão (poesia), Michel Laub (prosa), Carlos Felipe Moisés (crítica)
 
11 de junho, 13h30
Oficina com os coordenadores
 
2 de julho, 16h 
Palestra: As persistências da escravidão no século XXI
com Leonardo Sakamoto
 
16 de julho
Oficina com os coordenadores
 
23 de julho
Oficina com convidados
João Correia Filho (poesia), Leusa Araújo (prosa), Cristina Paiva (crítica)
 
30 de julho
Oficina com os coordenadores
 
As atividades de monitoria ocorrerão após todos os encontros de oficina, das 16h30 às 18h.
 
Em breve, a programação do Tantas Letras! 2011_2. Aguardem!

 
SOBRE OS PARTICIPANTES
 
COORDENADORES


TARSO DE MELO, além de ter concebido e coordenado as edições anteriores do Tantas Letras!, é escritor, autor de diversos livros; entre os de poesia, os mais recentes são Planos de fuga (CosacNaify, 2005), Lugar algum (Alpharrabio, 2007) e Exames de rotina (Editora da Casa, 2008). É autor também dos estudos História da literatura em Santo André: um ensaio através do tempo (Fundo de Cultura, 2000) e Direito e Ideologia: um estudo a partir da função social da propriedade rural (Expressão Popular, 2009). Organizou, com Eduardo Bittar, as coletâneas Vidas à Venda (Terceira Margem, 2009) e Cidades Impossíveis (Portal, 2010). Além das atividades literárias, é advogado, doutor e mestre em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP, professor das Faculdades de Campinas – FACAMP.

TIAGO NOVAES é escritor, tradutor, roteirista e psicanalista. Publicou o livro de contos Subitamente: agora (7Letras), e mais recentemente, com apoio da bolsa PAC da Secretaria de Cultura de SP, o romance policial Estado Vegetativo (Callis), com o qual foi finalista da primeira edição do Prêmio São Paulo de Literatura. Participou das antologias Cuentos Brasileros (Comunicarte) e Contos de Natal (Landy). Trabalhou na realização do curta-metragem O Sonho de Tilden, de Moara Rosetto, além do audio-tour ficcional, para a Mostra Sesc de Artes, com o roteiro La Culpa La Tiene Niemeyer! Idealizou e produziu o evento literário “Tertúlia: encontros da literatura”, realizado atualmente em unidades do SESC-SP.


REYNALDO DAMAZIO nasceu em São Paulo, em 1963. Bacharelou-se e licenciou-se em Ciências Sociais pela USP e fez curso de especialização em publicidade na ESPM. Atualmente realiza pesquisa sobre a obra de Lima Barreto. Autor dos livros O que é criança (Brasiliense, 1988), Poesia, linguagem (Memorial da América Latina, 1998), Nu entre nuvens (Ciência do Acidente, 2001), Horas perplexas (Editora 34) e organizador de Drummond revisitado (Unimarco, 2002), entre outros. Foi colaborador das revistas Cult, EntreLivros e Nossa América, entre outras, e co-editor da revista Sexos. Criou com o designer gráfico Ricardo Botelho o site Weblivros, em 1998, e integra o conselho editorial do tablóide K – Jornal de Crítica, lançado em 2006. Trabalha como editor, crítico literário, jornalista, tradutor e coordena oficinas literárias.


PALESTRANTES

MAMEME MUSTAFÁ JAROUCHE é professor da Universidade de São Paulo (Departamento de Línguas Orientais – FFLCH). Entre diversas atividades de tradução, crítica e docência igualmente notáveis, é o responsável pela primeira tradução direta do árabe para o português do Livro das mil e uma noites, cujos 3 primeiros volumes já foram lançados pela editora Globo. Por este trabalho, recebeu os prêmios Paulo Rónai de Tradução, da Fundação Biblioteca Nacional (2005), o de Melhor Tradução do Ano da Associação Paulista dos Críticos de Arte (2005) e, por duas vezes, o Jabuti de Melhor Tradução, da Câmara Brasileira do Livro (2006 e 2010).

LEONARDO SAKAMOTO é jornalista, mestre e doutor em Ciência Política pela USP. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e Paquistão. Já foi professor de jornalismo na USP e, hoje, ministra aulas na pós-graduação da PUC-SP. Trabalhou em diversos veículos de comunicação, cobrindo os problemas sociais brasileiros, atividade pela qual recebeu alguns dos mais importantes prêmios de jornalismo e de direitos humanos no Brasil e do exterior. É coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Mantém o Blog do Sakamoto.


CONVIDADOS - OFICINA DE POESIA


DONIZETE GALVÃO é jornalista e publicitário. Nasceu em Borda da Mata, MG, em 1955 e reside em São Paulo desde 1979. Como poeta colabora com as mais importantes revistas e sites de literatura do país. Tem poemas publicados em várias antologias no Brasil e no exterior. É autor dos livros de poesia Azul navalha (1988), As faces do rio (1991), Do silêncio da pedra (1996), A carne e o tempo (1997), Ruminações (1999), Mundo mudo (2003) e O homem inacabado (2010). É autor também de dois livros infantis: O sapo apaixonado (2007) e Mania de bicho (2009).


JOÃO CORREIA FILHO, jornalista e fotógrafo (ou simplesmente fotojornalista), colabora com publicações como National Geographic, Terra, Planeta, Horizonte Geográfico, Cult, Entrelivros, Revista do Brasil e Grande Reportagem (Portugal). Entre seus trabalhos, encontram-se diversos diálogos com a literatura, como o projeto Ruas Literárias, em que mapeia as ruas que ganharam nomes de escritores em diversas cidades (exposto inicialmente no SESC); a exposição Grande Sertão: Imagens, um mergulho fotográfico no mundo de Guimarães Rosa; e o recente guia turístico e literário da capital portuguesa Lisboa em Pessoa (Leya, 2011).


CONVIDADOS - OFICINA DE PROSA


MICHEL LAUB nasceu em Porto Alegre, em 1973. Escritor e jornalista, foi editor-chefe da revista Bravo e coordenador de internet do Instituto Moreira Salles. Hoje é professor de criação literária (Academia Internacional de Cinema, B_Arco, Sesc) e colaborador de diversos veículos e editoras. Publicou cinco romances, todos pela Companhia das Letras: Música Anterior (2001); Longe da água (2004), lançado também na Argentina; O segundo tempo (2006), O gato diz adeus (2009) e Diário da queda (2011). Recebeu o prêmio Erico Verissimo/Revelação, da União Brasileira dos Escritores, as bolsas Vitae, Funarte e Petrobras e foi finalista dos prêmios Jabuti, Portugal Telecom (duas vezes), Fato Literário/RBS e Zaffari/Bourbon.


LEUSA ARAUJO nasceu em São Paulo. Jornalista, escritora, trabalha como editora de livros e como colaboradora em revistas femininas de moda e comportamento. Estreou na literatura em 1994. Principais obras: Náufragos Emergentes – seis histórias ordinárias (Opera Prima, 2010) – Prêmio ProAc 2009, da Secretaria da Cultura do Estado de SP; Ordem, Sem Lugar, Sem Rir, Sem Falar (Scipione, 2010); A cabeleira de Berenice (SM 2006) – indicada para o Prêmio Jabuti, em 2007, na categoria “Melhor Juvenil”; Tatuagem, Piercing e outras mensagens do corpo (CosacNaify, 2010) – altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLJ) na categoria informativo. O seu conto A dona de casa não está teve os direitos adquiridos pela Rede Globo para futuras produções audiovisuais.


CONVIDADOS - OFICINA DE CRÍTICA


CARLOS FELIPE MOISÉS (SP, 1942) é mestre e doutor em letras clássicas pela USP, onde lecionou de 1970 a 1992, entre outras universidades. É poeta, prosador, tradutor e crítico literário. De sua poesia, reuniu os livros lançados desde 1960 no volume Lição de casa e poemas anteriores (Nankin, 1998) e o livro mais recente é Noite nula (Nankin, 2008). Como prosador, lançou recentemente Histórias mutiladas (Nankin, 2010), com o qual venceu o Prêmio Governo do Estado de Minas Gerais de Literatura 2008. Como tradutor, trouxe para o português um grande número de obras, entre as quais se destacam Tudo que é sólido desmancha no ar (Cia. das Letras, 1986), de Marshall Berman, e Que é a literatura? (Ática, 1989), de Jean-Paul Sartre, bem como a coletânea de poemas Alta traição (Unimarco, 2005). Como crítico literário, além de uma extensa colaboração com periódicos, é também autor de diversos títulos, entre os quais Conversa com Fernando Pessoa (2007). Em 2010, foi o curador da exposição “Fernando Pessoa: plural como o universo”, no Museu da Língua Portuguesa (SP), e organizou o livro Eu sou uma antologia (Portal), de Fernando Pessoa.

CRISTINA PAIVA é mestranda em Comunicação e Semiótica na PUC-SP na linha de pesquisa “Processos de Criação nas Mídias”, e editora-assistente do Guia Folha Livros Discos e Filmes, desde 2008. Fez graduação em arquitetura e urbanismo na FAU-USP e trabalhou no MASP na área de projeto e montagem de exposições. Tem uma pesquisa de iniciação científica publicada na revista de pós-graduação da FAU, "Desígnio", v. 2, intitulada "Crítica de arte e crítica de arquitetura em Mario Pedrosa".

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pensar é já parar

Gonçalo M. Tavares: "Pensar é pôr uma pedra no meio do avanço normal das circunstâncias. A expressão 'parar para pensar' é redundante, pensar é já parar, e isso,  em tempo de enorme velocidade, é fundamental. Claro que muitas vezes este gesto é visto como alguém que pára no meio da estrada a perturbar o tráfego. Quem pensa torna-se assim um obstáculo, que deve ser removido ou mesmo atropelado. Mas cada vez me parece mais evidente, isto: escrever livros é tentar travar, desacelerar o tráfego ininterrupto de notícias aparentemente actuais.
Claro que ninguém pára os acontecimentos, tal é impossível – e ler não é nem nunca foi isso. Mas ler pode ser, pelo menos, sair da confusão, ignorar temporariamente o acontecimento do último minuto que, no fim desta frase, já foi ultrapassado pela notícia ainda mais recente. De certa maneira é isto: trata-se de desviar os olhos do muitíssimo recente, fixando-os no que é mais antigo mas que, daqui a meses ou anos, será bem mais recente do que a notícia actual" (Suplemento Literário de Minas Gerais, n. 1333, nov/dez 2010).

domingo, 30 de janeiro de 2011

Recomeço

Empolgado com os bons blogs que visito - e um pouco mais leve das tensões pré-parto da tese -, quase dois anos depois, volto à casa. Ou melhor: ao caderno. Com a intenção de ficar. Um pouco mais. Veremos.

sexta-feira, 20 de março de 2009

IPTU para automóveis!

1
La autopista del sur
de Júlio Cortázar
(Todos los fuegos el fuego, 1966)

Gli automobilisti accaldati sembrano nom
avere storia... Come realtà, un ingorgo automobilistico
impressiona ma nom ci dice gran che.
ARRIGO BENEDETTI, “L'Espresso”, Roma, 21/6/1964

Al principio la muchacha del Dauphine había insistido en llevar la cuenta del tiempo, aunque al ingeniero del Peugeot 404 le daba ya lo mismo. Cualquiera podía mirar su reloj pero era como si ese tiempo atado a la muñeca derecha o el bip bip de la radio midieran otra cosa, fuera el tiempo de los que no han hecho la estupidez de querer regresar a París por la autopista del sur un domingo de tarde y, apenas salidos de Fontainbleau, han tenido que ponerse al paso, detenerse, seis filas a cada lado (ya se sabe que los domingos la autopista está íntegramente reservada a los que regresan a la capital), poner en marcha el motor, avanzar tres metros; detenerse, charlar con las dos monjas del 2HP a la derecha, con la muchacha del Dauphine a la izquierda, mirar por el retrovisor al hombre pálido que conduce un Caravelle, envidiar irónicamente la felicidad avícola del matrimonio del Peugeot 203 (detrás del Dauphine de la muchacha) que juega con su niñita y hace bromas y come queso, o sufrir de a ratos los desbordes exasperados de los dos jovencitos del Simca que precede al Peugeot 404, y hasta bajarse en los altos y explorar sin alejarse mucho (porque nunca se sabe en qué momento los autos de más adelante reanudarán la marcha y habrá que correr para que los de atrás no inicien la guerra de las bocinas y los insultos), y así llegar a la altura de un Taunus delante del Dauphine de la muchacha que mira a cada momento la hora, y cambiar unas frases descorazonadas o burlonas con los dos hombres que viajan con el niño rubio cuya inmensa diversión en esas precisas circunstancias consiste en hacer correr libremente su autito de juguete sobre los asientos y el reborde posterior del Taunus, o atreverse y avanzar todavía un poco más, puesto que no parece que los autos de adelante vayan a reanudar la marcha, y contemplar con alguna lástima al matrimonio de ancianos en el ID Citroën que parece una gigantesca bañadera violeta donde sobrenadan los dos viejitos, él descansando los antebrazos en el volante con un aire de paciente fatiga, ella mordisqueando una manzana con más aplicación que ganas.

PARA LER TODO O CONTO: http://www.literatura.us/cortazar/autopista.html
Dica: imprima e leia no próximo congestionamento.


2
Manifestação
do Centro de Mídia Independente

A cidade de São Paulo registrou ontem o recorde de lentidão do ano no período da noite: 201 km por volta das 18h55, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Com a ajuda da chuva, os motoristas disseram ter alcançado os objetivo do protesto e demonstrado sua força à sociedade.
A paralisação, que envolveu diversos setores da sociedade, contou com carreatas de motoristas com destino a diferentes pontos da capital. No dia de amanhã, mais e mais motoristas prometem aderir a paralisação.
Os manifestantes buzinam, porém negam o título de baderneiros: “Estamos criando empregos e fomentando a economia. Além disso, somos apoiados por grandes empresas e temos incentivos ficais” – disse um manifestante à nossa reportagem.
A manifestação, que ocorre todos os dias, é a única atitude que os motoristas dizem poder tomar diante da crise do petróleo e da sociedade do automóvel.
Questionados sobre os problemas ambientais da manifestação, os motoristas disseram não se preocupar com a quantidade de combustível queimado, nem com a natureza ou com a saúde: “Estamos apenas devolvendo, de forma natural, gases que pertenciam à natureza sob outra forma”.
“Temos nosso direito privado!”
A esta grande carreata somam-se fileiras e fileiras de carros e outros veículos motorizados protestando pelo direito privado de se locomover. A proposta deste ato particular é tornar diariamente inviável a locomoção de todas as pessoas – motorizadas ou não.
“Nós queremos mostrar à população que a mobilidade urbana deve ser um direito de poucos” – disse um manifestante. Outro motorista, que a princípio se recusou a abaixar o vidro, exclamou: ‘Se eu não posso, ninguém pode!”
Para ampliar a “mobilização”, o movimento organizado faz diariamente intervenções midiáticas em diferentes jornais, revistas e canais de televisão, além de possuírem seus próprios dedicados meios de comunicação. Além disso, o governo e a prefeitura estão abertos às reivindicações e firmaram um acordo que garantirá aos manifestantes a estrutura para que as manifestações sejam cada vez maiores, garantindo as condições democráticas do direito a livre manifestação pela imobilidade urbana.
Uma importante liderança do movimento disse que a manifestação cotidiana é o único meio efetivo de afetar toda a população: “É somente através da imobilidade que alcançaremos novas soluções”.
A investigação de nossa reportagem teve acesso a diversos de seus panfletos, onde pode verificar que tais soluções variam entre a venda de carros maiores e mais confortáveis ou menores e mais ágeis. Um perito em mobilidade urbana escreve que “para os manifestantes mais conscientes (sic), a solução mais correta seria a compra de carros blindados ou a utilização de helicópteros”.

Da reportagem local. Quarta-feira, 18 de Março de 2009

terça-feira, 17 de março de 2009

Sem-teto japonês

Poemas de sem-teto anônimo causam comoção no Japão
Philippe Pons
Em Tóquio [16/03/2009]

Eles são cada vez mais visíveis. Mas os passantes cruzam com eles aparentemente sem vê-los. Indiferentes, constrangidos. Suas sombras furtivas, miseráveis, aqui e ali nas estações ou nos parques, lembram bruscamente a muitos de suas próprias dificuldades. Seu sofrimento parece incorpóreo. Eles não mendigam e sobrevivem dos restos da sociedade de consumo. Essa sociedade os ignora e foge deles, os sem-teto das grandes cidades japonesas. Dois mundos que andam próximos, mas fingem não se ver.
Completamente inquietante, uma voz se eleva deste mundo de "náufragos" da prosperidade. Desde o fim de 2008, o jornal "Asahi" publica poemas curtos de um autor sem-teto que permanece anônimo. E, certamente pela primeira vez, os leitores desse jornal descobrem através de suas palavras esse "povo de baixo" que, durante a noite, dorme em caixas de papelão aos pés daqueles que se apressam para não perder o último metrô.
Como outros jornais, o "Asahi" tem uma coluna poética na qual são publicados poemas do gênero clássico waka, curtos e de beleza austera e melancólica, enviados por leitores que foram selecionados por um júri. Os concursos de poemas pertencem a uma tradição milenar no Japão. E os jornais a seguiram. A julgar pelo número que cartas de incentivo que o "Asahi" recebe, os poemas desse homem miserável, da rua, emocionaram mais do que um leitor.
A canção de Gréco
"Acostumado a viver sem chaves, eu passo o ano novo. De que mais ainda preciso me desapegar?" "Esta rua se chama a rua dos filhos infiéis. Eu não tenho pais, nem filho". "O homem não vive somente de pão, mas eu passo meu dia com o pão distribuído..." Sob uma noite estrelada, essa canção de Juliette Gréco, com letras de Jacques Prévert e música de Joseph Kosma, embalou o seu sono: "Adormecendo sob um céu estrelado, escutei a canção de Gréco. Era só uma ilusão..."
O poeta anônimo assina seus textos com o pseudônimo de Koichi Koda, mas o campo "endereço" que acompanha a publicação do poema, normalmente obrigatório, comporta a simples menção: "sem". O autor provavelmente vive no bairro de Kotobuki-cho, em Yokohama, uma das vilas de albergues decadentes, uma dessas armadilhas da cidade para onde correm os sem-teto.
A letra cuidadosa e a referência à canção de Juliette Gréco (que data dos anos 1950) fazem pensar que o homem é culto e deve ter mais de 70 anos. Logo depois da publicação de seus poemas pelo "Asahi", o poeta anônimo enviou outro: "Ao ler o artigo a meu respeito, como se tratasse de alguma outra pessoa, lágrimas me vieram aos olhos".
O jornal o chamou para que se apresentasse, nem que fosse para lhe pagar a pequena remuneração que acompanha a publicação do poema. "Estou comovido com sua gentileza, mas por enquanto não tenho coragem de entrar em contato com vocês", ele respondeu.

Tradução: Lana Lim

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Começo

É possível que um blog consiga tornar mais compreensível, inclusive e talvez principalmente para seu autor, como os dias passam de modo confuso. O registro mais ou menos pontual de uma emoção aqui, de uma irritação ali, das dúvidas todas, fatos, palavras, jogos, deve servir ao menos para revelar como a atenção deriva. E com ela a vida.