Gonçalo M. Tavares: "Pensar é pôr uma pedra no meio do avanço normal das circunstâncias. A expressão 'parar para pensar' é redundante, pensar é já parar, e isso, em tempo de enorme velocidade, é fundamental. Claro que muitas vezes este gesto é visto como alguém que pára no meio da estrada a perturbar o tráfego. Quem pensa torna-se assim um obstáculo, que deve ser removido ou mesmo atropelado. Mas cada vez me parece mais evidente, isto: escrever livros é tentar travar, desacelerar o tráfego ininterrupto de notícias aparentemente actuais.
Claro que ninguém pára os acontecimentos, tal é impossível – e ler não é nem nunca foi isso. Mas ler pode ser, pelo menos, sair da confusão, ignorar temporariamente o acontecimento do último minuto que, no fim desta frase, já foi ultrapassado pela notícia ainda mais recente. De certa maneira é isto: trata-se de desviar os olhos do muitíssimo recente, fixando-os no que é mais antigo mas que, daqui a meses ou anos, será bem mais recente do que a notícia actual" (Suplemento Literário de Minas Gerais, n. 1333, nov/dez 2010).
Claro que ninguém pára os acontecimentos, tal é impossível – e ler não é nem nunca foi isso. Mas ler pode ser, pelo menos, sair da confusão, ignorar temporariamente o acontecimento do último minuto que, no fim desta frase, já foi ultrapassado pela notícia ainda mais recente. De certa maneira é isto: trata-se de desviar os olhos do muitíssimo recente, fixando-os no que é mais antigo mas que, daqui a meses ou anos, será bem mais recente do que a notícia actual" (Suplemento Literário de Minas Gerais, n. 1333, nov/dez 2010).